quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Jovens são as maiores vítimas graves de motocicletas

NEIDIANA OLIVEIRA
neidiana@folhabv.com.br



Aproximadamente 90% dos acidentes de trânsito no Estado envolvem motocicletas. A consequência disso são os inúmeros casos de pessoas com simples sequelas ou fraturas graves e até amputação. O ortopedista Carlos Neves revelou que, dos acidentes ocorridos em todo Brasil, mais de 40 mil causam mortes e 142 mil deixam sequelas.

O especialista contou que a situação dos hospitais está precária, pois os blocos estão sobrecarregados e não há vagas para cirurgias. “Cerca de 90% dos acidentes com motoqueiros causam fraturas gravíssimas, que levam a cirurgia, a qual deve ser feita após o procedimento de emergência. Mas com a carência na saúde pública, tudo é mais difícil”, disse.

Neves comentou que a maioria dos acidentes ocorre com pessoas jovens que estão em sua fase produtiva e acabam ficando presos a cadeiras de rodas ou no leito do hospital por muito tempo. “Mas não culpamos apenas a imprudência e a falta de respeito dos condutores, mas também a falta de estrutura das estradas e sinalização”, afirmou.

Dentre os ferimentos mais comuns causado por acidentes, ele citou as fraturas expostas que ocorrem principalmente com os membros inferiores, ação esta que necessita de cirurgia de reparação do osso fraturado, com emergência. 

“Procedimento conhecido como osteocites, realizado com o uso de material de síntese, placas e parafusos. Lembrando que a maioria destas fraturas é causada por acidente de moto e o paciente fica por muito tempo sem condições de trabalho”, complementou.

O médico detalhou que todos os tratamentos de ortopedia e traumatologia são longos. O paciente passa vários meses para se recuperar, fora aqueles que ficam com sequelas graves, deixando a pessoa anos sem retornar ao seu trabalho. “Outras consequências são traumatismo crânio-encefálico e as cirurgias abdominais”, complementou.

Questionado se há muitos casos de amputação em Roraima, Neves afirmou que não, pois somente acontece quando há o esmagamento com lesão vascular no membro ou quando há uma grande perda muscular e não tem mais condições de reconstituir a vascularização.

“Na ortopedia, a amputação é um dos piores procedimentos. Muitas vezes as pessoas falam que o médico amputou, mas é bom lembrar que só é feito o processo quando acontece uma grangrena irrecuperável, sendo que a autorização do paciente e dos familiares é imprescindível. Sem a autorização não é feita a amputação”, frisou.



ATÉ AGOSTO, HGR REGISTROU
4,4 MIL VÍTIMAS DE MOTOS


Segundo dados do Hospital Geral de Roraima (HGR), de janeiro a agosto de 2011 foram registradas 4.477 vítimas de acidentes de motos, número superior aos acidentes de carro, que notificou apenas 507, no mesmo período deste ano.


A estatística da unidade aponta que mais de 3.200 sofreram traumatismo craniano. Com base nas informações do HGR pode-se afirmar que em torno de 90% dos acidentes de trânsito envolvem motocicletas, enquanto 10% acontecem com carros.



HISTÓRIA DE ORTOPEDISTA


Carlos Neves contou à FolhaWeb uma história ocorrida na época do garimpo em Roraima, quando ele ainda era o único ortopedista no Estado. “Certo dia, houve um acidente em que foi constatado o esmagamento de uma perna, a qual não tinha condição de ser reconstituída. Para tanto era preciso fazer a amputação”, relembrou.


Naquela época, na década de 80, a cidade era cheia de garimpeiros oriundos de várias localidades do país. Com isso, a dificuldade de conhecer alguém era comum. Diante da situação de esmagamento, a equipe médica precisava da autorização para o método de amputação do membro.


“Como precisamos do aval do paciente e da família, tentamos entrar em contato com familiares, mas não tivemos sucesso, não localizamos ninguém. Enquanto isso, as horas estavam passando e o paciente já corria risco de morte. Então resolvemos fazer a amputação sem a autorização”, lembrou.


Após terminada a cirurgia, a equipe se desfez e o médico foi liberado. Como o procedimento era cauteloso, ele retornou ao hospital. “Quando cheguei, me deparei com uma comitiva de secretários e deputados junto com o governador em exercício. No momento fiquei sem saber o motivo da presença, mas depois descobrimos que o paciente era irmão do governador”, destacou.


Neves explicou que, antes de qualquer amputação, é feita a documentação por meio de fotografias. “Nossa sorte é que tínhamos fotografado o estado em que estava a perna e também o membro ainda permanecia no IML. Foi quando mostramos aos familiares e puderam perceber que a amputação era necessária, assim tudo foi resolvido”, disse.

Um comentário:

  1. Dia após dia motociclistas estao morrendo ou perdendo algum membro do corpo por falta de prudencia no transito. relatos mostram que a maioria dos acidentados são jovens que não tem consciencia que o transito ta muito perigoso.

    adassa emanuela

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